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Presidente da república “unanime” de que o país não alcançou

nestes 50 anos a meta a que se propôs chegar

Vitrina, 14.07.2025 - O presidente da república, Carlos Vila Nova, considerou a celebração dos 50 anos de independência do seu país como um sonho a liberdade que se tornou realidade.“50 anos de liberdade, 50 anos com assento no concerto das nações, 50 anos de Africa e no mundo.

Este é verdadeiramente um dia de júbilo, de memória e de renovação de compromisso coletivo com os valores que forjaram a nossa nação: liberdade, unidade e esperança”, disse Carlos Vila Nova, num discurso de uma hora de duração e atentamente acompanhado por Marcelo Rebelo de Sousa, único chefe de Estado que se fez presente nas atividades comemorativas de 50º aniversário da independência de São Tomé e Príncipe.

Os restantes países da comunidade lusófona estiveram representados por vice-presidente, primeiros-ministros, vice-primeiros ministros, ministros de Estados, e chefe da casa civil.O discurso de Carlos Vila Nova tinha 21 páginas e nele o presidente de São Tomé convoca os seus conterrâneos a uma “importante oportunidade histórica” de refletir sobre o caminho percorrido, os desafios superados e as conquistas alcançadas.

Recordando esse 12 de julho como “dia mais importante” da história “enquanto povo e enquanto nação”, Carlos Vila Nova apelou os são-tomenses para uma “profunda reflexão rumo a construção do futuro”.Rendeu homenagem a todos aqueles que “com coragem e abnegação e imbuídos de espirito patriótico, digno de todo o nosso respeito se entregaram sacrificada e abnegadamente a nobre causa da liberdade e afirmação da nossa identidade como povo”.

“Celebrar o cinquentenário da independência nacional é por si só motivo de uma alegria sem par” regozijou Vila Nova, lembrando que a efeméride deve convocar a todos para “uma reflexão aturada sobre o percurso trilhado, o país que sonhamos e o país que temos”.“Vencemos o jugo do homem pelo homem, conquistamos a liberdade, esse bem jurídico fundamental intrínseco a dignidade humana, é certo, mas continuamos subjugados por grandes males, mostrando-se ainda longínquo e difícil de alcançar o futuro com que sonhamos no dia 12 de julho de 1975”, reconheceu o chefe de estado.

O presidente de São-tomé e Príncipe sabe que “é unanime” que o seu país não alcançou nestes 50 anos a meta a que se propôs chegar devido a insularidade, dependência da ajuda externa, das decisões menos acertadas e dos “desafios que não logramos vencer”.De acordo com o chefe de estado, a independência política foi conquistada, mas a independência económica tem-se mostrado longo e difícil. Até hoje o país não conseguiu alcançar a autonomia financeira necessária para se desenvolver de forma sustentável.“

Continuamos a lutar pela nossa independência económica que tarda a chegar, com todas as consequência que isso acarreta para as nossas populações, sobretudo para as camadas mais desfavorecidas”, reconheceu.

De facto, a economia do arquipélago é incapaz de gerar emprego e muito menos riqueza que garanta progresso, desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida aos são-tomenses, colocando o povo a “aguardar por dias melhores”.“O país debate-se com problemas reais e imediatos, com repercussão direta no dia-a-dia das nossas populações”, lamentou Vila Nova, sublinhando que faltam infraestruturas essenciais, o investimento privado “é incipiente e muitas vezes morto à nascença, as famílias estão cada vez mais desestruturadas, as forças politicas não convergem sobre as prioridades e a melhor forma de conduzir os destinos do país”, acrescentou.

De facto, o entendimento entre as forças políticas ainda estão muito longe de convergir para um objetivo único. Os 50 anos de independência aconteceram 24 horas depois de cancelado um importante ato agendado no programa das celebrações. Uma cerimónia de condecoração de figuras que contribuíram para a intendência do país foi abruptamente cancelada e uma nota da Assembleia Nacional publicada na sua página oficial refere apenas a “indisponibilidade” do presidente da republica e do primeiro-ministro de participarem no ato, sem acrescentar mais detalhes.O facto foi interpretado por cidadãos com o mau relacionamento entre os altos responsáveis de órgãos de soberania.

Carlos Vila Nova minimizou, entretanto o assunto no seu discurso. “Se nem tudo são rosas, nem tudo são espinhos”, disse.No mesmo dia, o partido Basta, o mais pequeno no parlamento, divulgou um comunicado dizendo que recebeu a noticia do cancelamento do ato das condecorações com “profunda tristeza” o que confirma “a instabilidade que se abateu sobre o país desde os trágicos acontecimento de 25 de novembro de 2022” em que quatro cidadãos foram torturados até a morte no quartel da Forças Armadas, acusados de alegada tentativa de golpe de estado.

“Para além da sua extrema gravidade, o cancelamento deste ato solene é um sinal claro de que o país vive mergulhado numa crise institucional profunda que continua a bloquear o seu crescimento e desenvolvimento”, diz Basta em comunicado.

Os acontecimentos de 25 de novembro, embora tenham passado há quase três anos, continuam a marcar a vida política em São Tomé e Príncipe. Foram ceifadas vidas de quatro cidadãos e um quinto foi brutalmente espancado e condenado a 15 anos de cadeia. Um relatório da CEEAC levantou dúvidas sobre o envolvimento das vítimas na tentativa de golpe de estado que o relatório também levanta suspeitas de não ter existido.

Partidos políticos pediram a Assembleia Nacional para abrir um debate parlamentar sobre o assunto, mas foi negado. Basta “lamentou profundamente que a Assembleia Nacional, um espaço por excelência para discussão dos assuntos relevantes da vida politica e social do país, não tenha agendado em tempo útil o debate solicitado” para debater o relatório da missão de investigação da CEEAC “relativo aos tristes acontecimentos” de 25 de novembro de 2022.

O presidente da república concorda que estes acontecimentos abalaram a imagem interna e internacional do país e defende que os autores das mortes sejam julgados e condenados á medida das responsabilidades no crime.

“Aproveito a ocasião para exortar as autoridades competentes a, de uma vez por todas, darem o respetivo seguimento e conclusão do processo da morte de quatro cidadãos na sequência da invasão aos Quartel das Forças Armadas em 25 de novembro de 2022”, disse Carlos Vila Nova, acrescentando que “as autoridades devem o desfecho deste caso às vítimas, aos seus familiares e a sociedade”.

“A vida é um bem jurídico supremo e é a todos os títulos, inadmissível que os que contra ela atentam fora das causas de justificação previstas na lei saiam impunes”, concluiu.

“O estado de direito democrático traz a premissa de uma maior participação dos cidadãos na conformação das políticas e dos programas de transformação, política económica, social e cultural da nação,”, argumenta o chefe de estado são-tomense defendendo que ele reforça as garantidas dos direitos e das liberdades e da prestação de constas por parte daqueles que são chamados a exercer cargos e responsabilidade politica em nome do povo”.No seu extenso discurso, Carlos Vila Nova recordou que no ano passado o seu país deixou de pertencer a categoria de Países Menos Desenvolvido, estabelecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

“Esta elevação de São Tomé e Príncipe ao estatuto de país de rendimento médio é o reconhecimento do nosso esforço, embora representa também um desafio e uma responsabilidade acrescida na medida em que o país terá que reformular políticas públicas para substituir os apoios externos por estratégias mais robustas”, lembrou.

Elogiou e agradeceu “de forma especial o apoio permanente de Portugal e de Angola, países cuja amizade e solidariedade têm sido pilares fundamentais no nosso percurso”.Considerou a presença particular destes dois países nos festejos dos 50 anos de independência como “prova viva de uma amizade que ultrapassa fronteiras e de um compromisso duradouro com o progresso de São Tomé e Príncipe”.

Carlos Vila Nova disse que a relação de fraternidade entre o seu país e Portugal e Angola tem-se “materializado em ações concretas de apoio político, económico, cultural e social”.Mas chama a atenção de que não se pode perder de vista que os tempos agora são outros.

“A nível internacional, estamos a atravessar uma década que se apresenta assaz perigosa – é um período de transição para uma nova ordem. Os ímpetos nacionalistas estão a crescer no mundo, sem que possamos saber qual será a configuração do cenário mundial dentro de dez anos”.

Chama ainda atenção de que os estados devem ser fortes internamente, de contrário pouco valerão no plano internacional.Fez um derradeiro apelo aos partidos e aos que “fazem politica” para a ”assunção de consciência enquanto os grandes obreiros da nossa realidade politica, de que é necessário encontrar consensos estratégicos e convergir sobre as prioridades e a melhor forma de conduzir os destinos” do país e do povo.

M. Barro

 

 

 

 

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